Muito se fala sobre a importância da diversidade para os negócios. Inclusive, já está evidente que as organizações que contam com uma liderança plural têm uma visão mais ampla das situações. E, com isso, mais inovação, produtividade e melhores resultados financeiros. No entanto, embora o cenário venha evoluindo nos últimos anos, ainda estamos longe de um futuro equitativo.
Segundo o IBGE, as mulheres são 44% da força de trabalho e 51% da população brasileira, porém ocupam somente 39% dos cargos de liderança. Quando comparamos com os dados de 2012, vemos um aumento bem inexpressivo – apenas 3% em 12 anos!
Na área de tecnologia e inovação esse percentual é ainda menor: apenas 31% das mulheres estão em cargos de liderança. Além disso, cerca de 30% das meninas cursam graduação em ciências, tecnologia, matemática, engenharia e outros cursos relacionados à área.
Esses dados abriram o painel “O Futuro da Liderança Feminina” realizado no Innovate on Tour – São Paulo 2025. Durante quase uma hora, cinco líderes incríveis discutiram tópicos (ainda) importantes para construirmos um futuro que seja, de fato, equitativo. E coragem – junto com intencionalidade – foram as palavras que mais ressoaram em nós.
Coragem para se posicionar
Foi por causa de um cenário pior do que esse, que Cristiana Xavier de Brito, autora do livro “Mulher Alfa – Liderança que Inspira”, decidiu exercer sua liderança como mulher. Há 40 anos no mercado de trabalho, ela foi a única mulher em inúmeros ambientes. E, mais do que se questionar o por quê, decidiu criar uma rede feminina na empresa em que atuava.
Para Rita de Cássia Duarte, diretora jurídica da 3M do Brasil e da América Latina, nós mulheres passamos tanto tempo ouvindo que não podemos, que acreditamos nisso. Por isso, ao mentorar meninas, tem como objetivo mostrá-las que é possível mudar esse cenário.
No entanto, o processo não é simples e um estudo da Mckinsey deixa isso evidente. Se uma mulher tiver 10 dos 13 requisitos de uma vaga, ela não se candidata, pois não se sente pronta. Porém, se um homem tiver apenas três requisitos, ele se inscreve. Diante disso, Adriana Laporta Cardinali Straube, diretora Jurídica no Mercado Livre Brasil, acredita que oportunidade é a chave para o futuro da liderança feminina. “Sem ela, a gente não alcança a liderança. Portanto, abracem as oportunidades!”
Cris Brito vai além e reforça a importância das mulheres terem coragem. E exemplifica sua fala com uma situação em que tinha acabado de ingressar em uma empresa na qual era a primeira mulher no Comitê Executivo. Em uma reunião, em que se discutia a extensão da licença paternidade para 20 dias, antes da criação do Programa Empresa Cidadã, precisou se posicionar. A ideia era ampliar a licença, porém, os recém pais teriam que atender ao celular caso alguém da empresa ligasse.
“Fiquei super dividida, mas pensei: sou paga para falar e dar minha opinião”.
Foi esse pensamento que fez Cris recomendar não seguir com a proposta. Pois, em muitos momentos, o profissional ficaria entre a necessidade de ajudar a esposa e atender à ligação. O comentário gerou silêncio absoluto na sala. Porém, levou a aprovação da licença estendida sem a necessidade de atender ao celular.
Esse exemplo reforça a importância de todas nós contribuirmos com nossas experiências. “Não se deixem interromper. Sua contribuição é extremamente valiosa para empresa e todos os colaboradores”, complementa.
Maternidade X Carreira – Por que não ambos?
A coragem precisa permear toda nossa vida, tanto profissional quanto pessoal. Afinal, não é só a diversidade que precisa estar alinhada aos valores das organizações. As escolhas diárias devem estar de acordo com os valores individuais. E, às vezes, é preciso coragem para segui-los e se posicionar.
Coragem para dizer não quero ter filhos. Coragem para dizer que você não poderá participar de um evento profissional por um compromisso familiar. Contudo, é preciso lembrar que o posicionamento das líderes atuais influencia nas decisões das futuras lideranças.
Por falta de referência, Adriana Costa, diretora Geral na Siemens Healthineers Brasil, acreditava que a maternidade era um caminho binário: “ou eu seria executiva ou seria mãe”. Quando descobriu que era possível ser os dois, se libertou da responsabilidade que ela mesma criou.
Para Rita, essa visão dual – ou eu vou cuidar dos meus filhos, ou vou seguir minha carreira – é um dos maiores fatores de autolimitação das mulheres no mercado de trabalho.
No entanto, todas as painelistas concordam que não há romance nessa decisão. Por isso é importante que as escolhas estejam alinhadas aos valores individuais.
“Fazer um doutorado junto com uma carreira corporativa de muita responsabilidade, com certeza não foi fácil. A gente tem que abdicar de algumas coisas e eu não me arrependo das escolhas que eu fiz, pois a minha carreira também é muito importante para mim.” Comenta Adriana Straube, que além de diretora jurídica do Mercado Livre Brasil, como ela mesmo se define, é mãe, esposa, e, nas horas vagas, tem uma carreira acadêmica.
Situação também vivenciada por Cris. “Eu estive ausente com meu filho em várias situações que eram importantes, mas hoje eu sou um exemplo para ele”. Mas, como saber se vale a pena? É preciso se perguntar se isso tem a ver com seus valores!
Intencionalidade é fundamental para um futuro equitativo
No entanto, para mudarmos o futuro, precisamos colocar intencionalidade no presente. Para Adriana Costa, precisamos nos questionarmos: como é que a gente move? Se queremos viver numa sociedade melhor e mais sustentável, precisamos colocar a diversidade no centro das discussões e acelerar os indicadores.
Para a executiva, isso passa pela criação de uma cultura diversa e inclusiva nas empresas, com priorização, métricas, transparência, além do envolvimento de todos os colaboradores. Afinal, Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) não podem ficar restritas a grupos de afinidade. É um tema que deve começar no CEO e alta liderança, mas todos os colaboradores precisam entender a sua responsabilidade nesse movimento.
Os benefícios são públicos e notórios, mas, para mudar o cenário atual, além de intencionalidade, é preciso tangibilizar para que as discussões não fiquem apenas no campo dos valores e da idealização. “É preciso definir: o que a gente vai fazer, como a gente vai fazer, o porquê a gente vai fazer” – e medir os avanços, comenta Adriana Costa.
Para Brenda Rühle, diretora de Assuntos Corporativos para Brasil e Cone Sul da Tetra Pak, a diversidade traz um lugar de desconforto para todos, ao mesmo tempo em que enriquece o debate ao inserir diferentes perspectivas. E é exatamente isso que gera inovações fantásticas!
Porém, tudo isso só será possível com coragem, intencionalidade e colaboração. Se cada um de nós, juntos, pudermos olhar pra esse futuro mais sustentável – um futuro que é justo para todas e todos – será melhor para todo mundo. Vamos juntos?
Confira o painel completo: